Uýra Sodoma

Uýra Sodoma_foto_ still-de-video
Foto: still de video

MINIBIO

Emerson Pontes é bióloga, mestre em ecologia, arte-educadora e artista visual. Nascida em Santarém/PA, atualmente reside em Manaus/AM, território industrial no meio da Amazônia Central, onde dá vida a drag queen monstra Uýra Sodoma, “uma entidade do mato em carne de bicho e planta”, como define. Através de materiais orgânicos na maquiagem e figurinos, encarna “A árvore que anda”. Em fotografias das caracterizações e performances, denuncia as violências aos sistemas vivos e (re)conta histórias de encantaria existente na paisagem cidade-floresta.

Sobre os processos criativos

→ Linguagens artísticas
Tem como base as artes visuais, e realiza os seus trabalhos através da performance com intervenções urbanas, vídeos, foto-performances e instalações.

→ Forma e conteúdo
Conhecimentos científicos da biologia e ecologia, sabedorias ancestrais indígenas, mitologia, debate sobre a conservação ambiental e os direitos indígenas, e das populações LGBTQI+ e periféricas.

→ Materialidade
Em suas performances e registros, a artista impacta inicialmente pelas fortes cores e pelo hibridismo das entidades que constrói: “Uýra é uma árvore que anda”. A principal matéria de seu trabalho é seu corpo, usando elementos da natureza e materiais orgânicos da Amazônia na maquiagem e figurino-camuflagem, trazendo também referências da cultura e caracterizações drag queen.

→ Conexões transdisciplinares
Em função de sua formação em Biologia e Ecologia, estes campos do conhecimento estão muito presentes no trabalho da artista. Emerson dá aulas de arte e biologia para jovens e adolescentes em comunidades ribeirinhas, ensinando sobre as violências aos sistemas vivos e “(re)contando histórias de encantaria da floresta”. Também produz textos. No campo da arte, seu trabalho se realiza entre as artes visuais e a performance.

→ Processo de criação
A formação de bióloga e arte educadora interfere visivelmente no trabalho de Uýra que diz se inspirar nas estruturas vegetais e animais para a criação de sua entidade comunicacional. A partir de caracterizações que lembram a “montagem” drag queen, utilizando maquiagem, materiais orgânicos e camuflagens, Emerson se transforma em Uýra, uma árvore que anda, e cria performances e instalações, normalmente para a câmera, isto é, para registro fotográfico e em vídeo. Além da produção para ambiente expográfico, a artista também concretiza seu trabalho através de oficinas e formações em comunidades ribeirinhas e da criação de textos.

→ Saberes estéticos
A artista diz que seu trabalho nasce do diálogo. A despeito da violência das ruas de Manaus, onde realiza grande parte de suas performances e intervenções, contra o que muitos reconhecem como um corpo diferente, Uýra propõe o diálogo e a troca a partir de seus conhecimentos científicos, usando sua atuação como ferramenta de sensibilização da população para a defesa da natureza, compreendendo por natureza, como diz, não apenas os rios e igarapés abandonados, mas também os corpos indígenas, negros e de muheres invisibilizados.

→ Por que esta artista foi escolhida para estar na categoria “novos artistas”?
Primeiramente por chamar atenção em seu trabalho para as violações aos sistemas vivos e por compreender sociedade e ambiente como uma coisa só. Quando fala sobre respeito aos Igarapés abandonados em Manaus, Uýra faz relação direta entre esses cursos d’água e a população LGBTQI+, negra e as mulheres, minorizadas por um mesmo sistema político econômico.

Seu trabalho contesta as narrativas colonizadoras em torno das identidades indígenas, persistentes até hoje. A artista também relaciona seu trabalho a sua atuação como arte educadora, formando diretamente jovens e adolescentes da região Norte do país, local onde nasceu e vive, fora da concentração do mercado de arte sudestino. Seu trabalho também tem grande apelo estético, comunicando com um público ainda mais amplo em relação ao restrito circuito de arte contemporânea.

Essa descentralização, não apenas geográfica, mas também do campo de atuação foi o principal aspecto para a elaboração da lista de “novos artistas” da arte contemporânea brasileira.

Referências

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